segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Mergulho

O ar me falta
inspiro fundo pra tentar me acalmar
tento focar na respiração

Deito de peito aberto no solo
pra afagar o coração
mas entre minhas pernas
ele continua a pulsar e aquecer a mente

Sento e busco assentar as sensações
na esperança de dissipar a ansiedade
quando silencio
ouço então seu sono e respirar profundo

Volta a palpitação
reviro na cama
e busco algum pensamento lógico
pra explicar aquilo

Mas cada movimento
só me excita mais
e parece que vou implodir
numa ânsia de sentir

Desisto
e enfim sento à sua beira
não desejo mais nada além disso
preciso deixar esse vento
que cria ondas sobre minha pele
desacelerar e levar embora
o que não controlo

E então mergulho
me deixo ser acolhida
e lavar meus desejos
na imensidão desse lago
onde repouso no escuro

Enfim a água me inunda
e meu corpo treme de tanto sentir
há um fluir de você em mim
há pausas pra tomar fôlego
e no espelho de suas águas
posso enfim me ver









 

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Amor de mãe

 

Minha filha,

eu te amo de forma infinita

e queria que você soubesse 

que não é ruim a gente sentir,

a gente temer ou chorar.

Ruim é a gente deixar de dizer

que ama quando ama,

porque a gente nunca sabe

se vai ter nova chance de dizer.

Então não deixe irem embora

os momentos em que você sentir

amor por alguém.

Mesmo que te achem muito emotiva,

diga e deixe que toda boa

emoção e sentimento

tenha passagem em você e alcance

o outro enquanto está ao seu lado.

O futuro não existe

e o passado já se foi... só temos o presente.

Então ame e viva o melhor hoje.





domingo, 25 de julho de 2021

Eu te amo hoje

 

Eu queria dizer que te amo

e dizer que isso não te compromete em dizer o mesmo

porque o te amo é de mim para você

como um presente que lhe dou e pode fazer o que quiser

eu te amo na liberdade que aprendo em nossos encontros

eu te amo no carinho que há tanto tempo eu não tinha

eu te amo sem precisar dizer

eu te amo porque há cumplicidade no nosso café

porque amo dormir, acordar e ouvir seus tiques

e queria te dizer hoje porque é o que eu sinto agora

porque tudo de bom que vivemos nesse momento

deve ser dito e sentido no seu melhor

porque se amanhã eu não te amar mais

vou ter sido feliz em saber que te amei hoje



terça-feira, 9 de março de 2021

Compreender

 Meu bem, 

Você é tão maior que tudo isso que está lhe afligindo,

porque tudo isso não é o que você realmente é

As dores, os amores, até mesmo a gente,

são só experiências pelas quais passamos

e que não definem quem somos.

Você é essa pessoa livre, feliz e plena

por trás de todos esses momentos que parecem não passar.

Por trás da solidão que você sente,

há alguém que sempre esteve aí

alguém que não muda, em essência.

E sim, você tem uma essência que é bela e não perfeita

como toda a natureza ao seu redor.

Sei que sou suspeita em falar,

Porque acredito em tudo, 

Em todas as coisas possivelmente existentes,

e por isso acredito em você,

como acredito em mim

e em todas as pessoas que de verdade sentem.

E nós sentimos tanto... 

Sentimos, e por isso a vida nos parece mais dura.

Mas é só um aspecto dela, 

de toda essa coisa que a gente tenta entender pra viver melhor.

O que existe por trás disso que vemos é tão maior que a gente,

E fazemos parte disso, pode acreditar.

Eu acredito em você, meu bem,

Na sua força, na sua sutileza e em tudo o que você é

porque eu te vejo, te ouço, te sinto e acima de tudo, te compreendo.


Daniela Ivo

09/03/2021




domingo, 7 de março de 2021

Prazeres à mesa


Sempre tive grande prazer nas refeições. Pra mim elas eram quase rituais e um momento único, por mais repetitivos que fossem os almoços ou lanches, eram quase estados meditativos.

Mas fazia anos que eu não tinha mais esse prazer, e não sabia bem o que tinha acontecido com aquela minha vontade em experimentar temperos, em inventar minhas “ante receitas”, em descobrir o que deu ou não certo, o que agradou mais ou menos o paladar.

As refeições se tornaram silenciosas, mas um silêncio não apreciativo e sim defensivo. Sim, havia um receio em falar. Em falar e ver a expressão meio torta do outro, em falar e ouvir a reclamação, em falar e não ter retorno, ou ainda retornar uma fala tão desestimulante, que preferi apreciar o vazio das refeições.

Isso hoje me faz lembrar o vazio das refeições na casa dos meus pais antes deles se separarem também, quando meu irmão e meu pai brigavam, quando minha mãe já tinha silenciado por motivos parecidos com os meus. E eu só percebi isso depois de tantos silêncios assistidos em minha casa.

Hoje aqui as refeições são inconstantes: temos apreciações de temperos e dos nossos gostos diferentes, meus e de minha filha. Trocamos impressões sobre essas diferenças e mesmo havendo uma reclamação dela, típica de libriana que quer tudo em equilíbrio, mesmo assim a gente no final acaba rindo de alguma ideia que surge, acaba contando outras histórias que se deixam vir, ou até ouvimos as discussões dos vizinhos e rimos.

Temos encontros de verdade à mesa, mesmo que só nós duas. Ou quando minha mãe vem nos visitar e as falas se multiplicam mais ainda, deixando a comida esfriar no prato de tanto a avó e a neta falarem.

As inconstâncias das refeições viraram rotina. E a rotina do preparo das refeições não são mais silenciosas: são livres e abertas à cumplicidade, às novas ideias e experimentações, aos erros e às preguiças do domingo.

Hoje as refeições me refletem, porque não silencio mais diante do que me dá prazer, e não silenciarei mais diante de qualquer ausência, principalmente de mim mesma.

 

Daniela Ivo

01/03/2021

(texto produzido para a oficina online do Projeto Mulheres de Sal)

Imagem da arte de Rui de Paula - Fogão com bule azul

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Ser leve

Meu bem, quanto peso a gente carrega sem precisar.

Se eu soubesse antes que a vida podia ser mais leve,

não teria deixado tanto tempo passar sem dizer o que era preciso.

Mas o tempo é um grande mensageiro atrasado aos nossos olhos,

a gente quer entender sem saber esperar

e quando ele passa e nos ensina a lição

parecemos esquecer que dói mais não ter entendido antes.

A dor do conhecimento é algo que aos poucos 

acomoda todos os empecilhos dentro de nós,

faz surgir o sentido de tudo que foi visto,

revela o que antes era só peso

e, por fim, traz leveza aos dias.

A dor maior que fica é a solidão do conhecimento

é ver sozinho, quando a gente só queria dividir isso tudo com o outro.

Repouso no balanço da cadeira que me acolhe

e deixo partir o vazio em mim pelo jardim afora.


Dona Marcinha

18 de fevereiro de 2021

Cartas de pandemia



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Desejos de folia

É Carnaval, meu bem, e agora?

Todas as vontades de fazer o que der na cabeça, todas as loucuras e bichos que ficam aprisionados durante tanto tempo, não vão mais pular por aí.

Não vamos pôr a purpurina no rosto e arrumar a fantasia de última hora. Aquele bloco de marchinha que arrasta a gente como se fôssemos parte do mundo, e o mundo fosse parte da gente, não vai sair.

Fico com medo de sair de casa nesse carnaval fake, porque muitos estarão sem máscaras, fazendo ainda suas loucuras e talvez até mais, porque existe uma impunidade mortal no ar.

Eu queria enfeitar minha varanda e voltar a beber só essa semana, pra poder deixar minhas mágoas irem embora também.

Eu ia escrever sobre elas hoje pra você, mas lembrei do Carnaval, de não ser mais jovem, de não ter mais quem beijar na boca nesse carnaval. 

Ah, e como é bom ter amor de carnaval! Ver os casais com fantasias que combinam, grudados, pulando e caindo por aí, até voltarem apoiados uns nos outros pra casa.

Tanta gente, tanta alegria... Alguns ainda vão festejar na surdina, se aglomerar e não vão resistir em fazer churrascos, e festas, e bailes, e não saberemos depois se além de cinzas e confete, o que mais vai sobrar pelos hospitais.

Tanta gente, e eu aqui na minha varanda escura. 

Espere que fique bem por aí, que resista em não pular, e que  beba um pouco pra se alegrar, veja bons filmes, encontre quem estiver seguro como você, e seja feliz nesse carnaval.


Sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021.

Cartas de Pandemia


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Somente um oi

Oi, meu bem.

Resolvi te escrever antes que tudo acabe.

Calma, que não há previsão de novo fim do mundo, mas é que a cada mês há algo novo que parece dizer que todos estamos no fim dos tempos.

As pessoas estão meio loucas, ou meio anestesiadas de tanta loucura, que já nem sei. Nem mesmo eu sei se não peguei esse vírus. 

Ele nos deixa pensando na vida, na morte, depois deixa a gente  voltar ao  quase normal e decidir o que fazer com as duas sensações de fim.

E no fim tem quem não pense em nada, que não mude nada, e siga sua vida de sempre, de não enxergar muito  além do que o dinheiro paga, das festas, dos fins de semana em algum restaurante bom.

E tem quem não saiba  mais por onde começar a reviver, depois de tanto que viu e sentiu. Tipo eu, assim.

Não tenho mais vontade de ficar famosa, mas  sigo contando meus pensamentos, com uma ânsia doida de sempre sentir mais, porque entender mesmo eu já sei que não tem mais o que entender, só o que sentir.

E sabe meu bem, parece que só eu sinto. E me sinto um alienígena muitas vezes. Aquela sensação de não saber bem o que encaixa com o que mais. Como na adolescência em que a gente tá se descobrindo. 

Mas eu já passei dos 40, e fica chato dizer isso, mas parece que tenho uns 15 de novo, nesse sentido. Minha sorte é que a gente não desaprende nada, e somo a essa sensação pueril o que vivi até aqui.

Acho que o resto é reentender, saber lidar e esperar a vacina chegar direito pra sentar na beira da lagoa com liberdade real, com papos reais e pessoas que de verdade sejam. 

É, meu bem, nada acaba, e em breve eu te escrevo de novo. E se eu passar pro outro lado dou um jeito de alguém psicografar, pode deixar.

Fique bem por aí. E a cada dia que surgir um desânimo, tome um café ou um chá, o que lhe for melhor ao seu coração, mas me envia mensagem sempre.



Cartas de Pandemia


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Repetição

Quase um ano já se foi
Mas em mim as dores ainda não
Minhas mãos parecem ter ainda a tinta
Que marcou por tanto tempo meu corpo
Que apertou por tanto tempo meu peito
E ainda meu peito aperta
A cada repetição de falta
A cada falta de companhia
A cada ausência de afeto
A cada não 
Parece que sempre estive presa a incertezas
Sem saber sair ou ficar
Sem entender o que sentir
Sem conseguir falar
Parece que em mim algo se quebrou há muito tempo
E sem tempo pra entender
Anseio por cobrir os vazios
Por dissipar as marcas
Por esquecer as mágoas 
Mas nada se vai
O tempo parece me dizer algo que não entendo 
Tento fazer as pazes comigo mesma
Entender meus desejos 
E recomeço 
De novo

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Retorno

Olho o tanto que fui

Fui insônias, tristezas, cegueiras

Fui em prantos, em lamentos, em olheiras

Mas fui porque o quis deixar ser

Fui assistindo o espetáculo dramático

Achando-me a atriz principal

Mas eu estava na coxia

Cega, atrás das cortinas,

Tentei fazer parte das cenas

Fui até onde não sabia mais meu papel

Até haver desistência e silêncio

Até o fim

E no fim, ainda não acreditei que terminava

Ainda achava que era um sonho

E o sonho se quebrou, se gritou, se cansou

Nem mesmo o paletó era meu

Ficaram os espelhos somente

A me fazer enxergar a profunda realidade enfim:

Sempre estive só.

Agora é recaminhar.

sábado, 4 de março de 2017

Cansada

Em 11/10/2016



Já gastei meu latim
cansei de pensar que isso teria um fim

seja breve e leve, o vento que venha a me levar
venha pelas folhas, carregue a areia que cobre meu peito
lave a terra que não secou de tanto molhar

termine enfim
bastei em ser nó
em cansar de tentar
gritei por socorro e a sua luz não veio

veio horas da tarde e perdi o sol se pôr
pôs-se o que vinha sem tempo de querer ficar

fica mais calma, mais zen
seja menos peso, não carregue no ombro
diga amém, sem pensar em quem vem

siga a luz ao som do cansaço
descalço, te faço em pedaços pra poder aguentar

rumino o futuro de quem anda, ama ainda em meu nome
manda silêncio, obedece a tua matéria,
que ela não era a louca estrela, não deixou de brilhar

venha, importa o jogo, a dança, o passo
a música faz-te ninar e a menina ainda cresce

come o doce que te reservou,
lava os dedos e deseja de novo

Falta



Faz falta a nossa vida
a vida que já não existe
A gente muda
mas se muda demais já não sabe o que é

Não saber o que dizer
não ter o que falar
incomodar o silêncio
Silêncio em excesso



Sentir não importa
Crer não importa
O que importa?

Amar, só se for concordando com tudo

Sempre vem o choro
a ausência
a mágoa
a desistência

Até quando?

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Sem título e sem data

Barbárie de mim
sou assim sem escândalos
Torturas afins
sei me conter como tantos
Casa de mente escura
obscura em prantos
socos e tapas que dou
nas paredes da pele
que reveste o ser
Ser mais ninguém
vontade de sair
horas de fazer passar
Passa por cima
dos restos de mármore
troncos de árvore
que cobrem o jardim
Lâminas de aço
sem mola nem fio
cortam palavras afiadas
meu pulso esvai tudo

Cordas farrapos e restos no chão

Um milhão de soldados
na rua boladas e protestos
eu nua aqui
Calada sentada
cansada de não rir
e sentir
Covardes encantos
não choro
por mim
Caneta na mesa
só ela
a cuidar
Minha menina branca
bendita
me anima a acalmar

sexta-feira, 16 de maio de 2014

VAZIO


Não é o que eu sinto em mim
Mas o que sinto no que vejo
Vejo palavras fortes, campanhas, conselhos, e nada.
Só o vazio das folhas que não existem
Saudades de ler e escrever, de sentar no fim da tarde, de abraçar
Não vejo pessoas, vejo reflexos, espelhos que tentam impressionar
E assim, vejo o vazio
O vazio de meus contemporâneos, que se perdem em teclas sem voz
Eu vivo no meu silêncio, para não falar o nada
Nada de impressionar, declarar amores e ideais, levantar bandeiras que estão em branco
Levanto-me e trabalho,
Levanto-me e cuido,
Levanto-me e ando.
Todos os dias vejo pessoas reais, numa vida de trânsito, numa estrada de muitos caminhos
Abraço quem eu posso, beijo quem se importa, brigo se acordar alguém
O resto.... só vazio
E eu, só uma voz a teclar.


16/05/14

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Anos

Jaz que passei dos trinta e não fui crucificada
sim, pois a idade do Cristo também venci
e de agora em diante tenho meus próprios espinhos
a plantar em outras cabeças e pregos
a bater em palmas

Jaz que a juventude se foi em fotos
e do tédio de minhas asneiras
bebi com meus amigos, a fazer rir o garçom

Jaz que a articidade e espírito leonino se converteu em espiritualidade,
rezo na manhã do meu lar, no aconchego de minha família
a recontar o que sou

Jaz, de tempos em tempos, aqui se faz uma breve conotação de fatos sentidos
a expropriar o direito de ser eu ou ela, outra pessoa

Jaz, que eu não danço jazz, nem negra nasci
mas percorro o chão que se levanta aos meus pés

Jaz, que a vida corre e minha pequena cresce
e escreve mais do que eu em mim

Jaz, que reinvento as tentativas de amor de meu amor
e norteio meu coração pelo que pode vir a ser

Jaz que fiz idade

sexta-feira, 7 de junho de 2013

SE PERDER



SEM TER O QUE FALAR

SEM TER O QUE DIZER

SEM TER AO MENOS O QUE NEM ACREDITAR

SEM TER O QUE SENTIR

SEM TER O QUE SE OUVIR

SEM TER VOCÊ AQUI PRA RECLAMAR DE MIM

SEM TER O QUE FAZER

SEM TER O QUE CEDER

SEM TER DIREITO OU VERDADE DE QUERER

SEM QUERER ME DESPEDIR

SEM ROUPAS PARA ME DESPIR

SEM DESCULPAS OU POR QUERER TE OFENDI

SEM LÁGRIMAS PRA CHORAR

SEM FORÇAS TENDO QUE ANDAR

SEM CALMA E DESESPERO QUERO CORRER PRA TE BUSCAR

SEM VIDA PRA SENTIR

SEM CORES PARA COLORIR

SEM FADAS OU DUENDES PRA ENFEITAR O MEU QUINTAL

SEM VOZ EU TENTO TE CHAMAR

SEM RESPOSTAS EU SENTO A ME CALAR

SEM MÁGOAS E MENTIRAS INVENTADAS
AGORA É TUDO IGUAL



terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Dois mil e treze

O ano novo chegou
o computador pifou
o carro sumiu
as canetas falharam
mas o mundo não acabou!

A sogra chorou
a cerveja até sobrou
e os amigos riram

Hoje tem sol e praia pra quem quiser
tem parente pra visitar
criança pra buscar
e tudo afinal vai voltar ao normal

Porque foi só mais um dia
mais uma briga
e uma boa dormida
que me fez ver que o tempo já foi
que nem bebi tanto

O que vale é o quanto
a gente gosta de verdade
sabe tolerar e dar beijo de boa noite
porque o final não chega
e daqui a pouco já é carnaval

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O faz de conta


As feridas estão abertas
Se eu pudesse seria um pássaro pra voar daqui
Ou ter músculos pra te bater
Mas nem um nem outro resolvem
Minhas feridas não secam, o alho continua a temperar demais
Soa como nunca antes, dói que nem topada no dedão
A faca tá amolada sobre a mesa, esperando alguém cortar o pão
Dividir essa coisa mal cortada, essa comida estragada
Se eu pudesse seria uma leidi, seria Amélia e Eva
Mas não sei, não passo do quadrado de minha casa
Suporto o que se convém e o resto vira drama
Nossa vida parece novela que não termina, desenho inacabado
Queria conseguir de verdade, evoluir nessa noite e virar lobisomem
Uivar pra lua cheia e correr por aí
Ser menino de treze anos, que nem a lenda
Vivo sonhando acordada, viro demais na cama e caio no chão
O chão me acorda e me diz qual é o limite, mas dói e deixa o rosto roxo
O amor é estranho mesmo, ou eu que sou
Porque nem sei pedir desculpas, nem deixo o tempo passar
Sinto falta da tua pele e de tua magreza
Queria ver filme junto, ir á praia
Mas o tempo ficou nublado e não tem vento que dê jeito
O meu peito nem sente mas a cabeça roda
Enquanto fico aqui esperando na lógica da reencarnação
Acho que o problema é esse, é voltar
Se eu voltasse poderia me segurar e dar um tapa pra me acordar
Saber que ia dar zebra, que o bicho pegou
Só que a vida tem relógio e conta depressa o tempo da gente
Nem percebi que você foi embora, fiquei aqui divagando nas minhas objeções
Incerta de ter razão ou sentimento, contando os papéis de notas a pagar
Esqueci da criança que pari, de criar devagar e com paciência
Aprender não é fácil, mas a gente vai seguindo até o portão fechar
Se der o sinal e eu ficar de fora, vou chorar que nem criança
Vou sentar no meio fio e por a cabeça entre as pernas pra ver se  o mundo gira
E não vai eu sei
Vou ter que levantar e lavar a cara, mas eu fico aqui te esperando até você sair
Até me dar outra chance
e vou rezar pra Deus não me entender e me dar outro tombo
porque senão não aprendo

04/12/12

Perdão que nada


Peço perdão por mim e por você
Perco as horas tentando ver
Conto as moedas e não dá pra comer
Pego o ônibus e durmo depois        

Tento rimar mas acabo sendo clichê
Toco sua pele e ninguém vê

Barbarizo a minha face quando não devia
Gravo a minha voz e falta sintonia
Me falta achego, te peço dengo
E faz que não me escuta

Deixo o tempo passar
E é só o que faço

terça-feira, 2 de outubro de 2012


Queria que essa folha em branco no meu computador dissesse mais que o que vou dizer
Mais o que sinto e penso
Conceitos, perturbações, conflitos, religiões
Tantas coisas por falar, por fazer
Nada aqui
Ninguém
Há um espaço entre eu e essa linha, entre o branco da folha e as teclas em que digito
Há um espaço entre o que falo e que penso, entre o que sinto e o que o outro vê
Certa vez disse que a imagem de mim nada mais é que só imagem
Mas como isso se apaga, se transforma ou deforma sem que a gente perceba?
Há um espaço vazio, entre minha mão que te aperta e minha voz que sussurra
Um espaço , um lugar em que mais de uma presença é sentida, mais de um sentido é composto
É um espaço em que creio, em que me empurro tentando entrar, mas que não passo da parede do espelho
Há um espaço em que me movo, em que movimento minhas inspirações e deixo que o círculo se complete e me complemente em que falto
Há um lugar, um lugar onde a ausência é somente de tudo o que eu não entendo
O que perturba me faz andar, tentando achar esse espaço, esse lugar , essa presença do que não está aqui
A casa por arrumar, o marido que chega
Meu espaço mudou, chegou e talvez eu tenha visto alguém no espelho acenando pra mim, ou tirando o pó da mesa
Há um pouco de chá, de mágoa, de resto de café derramado no chão
A pia vasou, o cachorro não quer entrar na casa, no seu espaço, ele procura por algo
Eu sei que você não vai entender, não é pra isso
É só pra eu tentar mais uma vez te encontrar aqui

sexta-feira, 18 de maio de 2012

A pequena

Coisa mais linda e inspiradora
é a Malu leitora!
Lendo as suas histórias, seu gibi,
lendo as rimas de poesias
e me fazendo rir!
Fico aqui que nem boba,
com a pequena que recém
aprendeu b com a comigo,
entendeu o que é interrogação
e agora sabe entonação!
Malu Maluca,
soa como uma aprendiz
mas que não é mais minha
porque me ensina muito mais,
e ainda faz o que eu não fiz!


segunda-feira, 19 de março de 2012

Presente do Vento

O vento trouxe uma pedra
que plantei em meu terreiro
Ela deu uma flor
que chamei de Vitória
O vento vestiu uma saia
e começou a rodar
Espalhando suas flores
por todo esse lugar

Oiá Oiá Oiá
Rosa pedra vitória
Ventania que leva embora,
ventania me traga de volta

O vento plantou semente,
semente virou raiz
Ela deu uma roseira,
de rosa palha-amarela
A rosa tornou presente
que fica em meu coração
Hoje faz parte da nossa vida
e da minha oração

Oiá Oiá Oiá
Rosa pedra vitória
Ventania que leva embora,
ventania me traga de volta

Ventania que leva embora,
ventania traga meu amigo de volta

17/10/11

segunda-feira, 12 de março de 2012

Ceci, Amyr e Janaína

Encontrei Seu Ceci nas ruas de Paraty
Em poucos minutos, me contou sua história
e o homem de 60 anos me emocionou com suas memórias
Ele, simples pescador, que também gostava de mergulhar
iniciou, sem querer, um famoso menino na arte do mar
Sem planejar, o menino surgiu faminto por embarcar
naquela que seria sua eterna canoa: Janaína
O menino, de tão insistente, fez Seu Ceci emprestar a canoa
e, de repente, tinha sumido na lagoa
Disseram a Ceci que fora do outro lado da bacia,
visitar a ilha de seu pai
Cecir admirou-se pela vontade de um menino de dez anos de idade
Alguns anos passados, o menino voltou ao pescador
acompanhado por sua mãe que pediu, quase chorando,
que a canoa fosse comprada, pois o menino
desde aquele dia, só ficava acordado sonhando
com aquele mar e por ali estivesse navegando
Assim, Seu Ceci vendeu Janaína
que o menino Amyr até hoje conservou muito querida
Anos depois, o menino também virou homem do mar,
conta histórias de sua vida a navegar pelo mundo
mas não esquece onde nasceu sua sede por viajar:
em Paraty, com o pescador, poeta e encantador Seu Ceci!




















Ps.: Ao final dessa conversa Seu Ceci tinha lágrimas nos olhos. 
Não resisti, e lhe dei um abraço!

terça-feira, 6 de março de 2012

Pedido

Minha mãe d’água, me leva embora desse lugar
que tanto penso e não chego onde espero
Me leva pro seu mar onde tudo pode se realizar
Sento na beira da praia,
olho suas ondas e seu verde-azul me acalma a mente
Leva embora minhas tristezas, me enche de brisa
Janaína que embala os barcos, embala meu corpo agora nas ondas do seu mar
Serena meus olhos, serena minha alma
Rezo a minha mãe d’água que venha me levar
Eu como pescador, que não conhece nada dos seus encantos, nada da vida
Tento entender as ondas do mar, seu vento, seu balanço
Minha mãe, meu mar
Que me leva e me volta a mim
Que me traz de volta a sua frente
pra entender o quanto é grande esse mar, essa vida
e o quanto sou pequena nessa areia de praia
Me guia nas ondas dessa vida,
me leva onde tenho que estar e me dá coragem
pra levar o meu barco por seus misteriosos caminhos,
meus pensamentos nessas ondas que não sei por onde vão dar




05.03.12

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Quando tudo está muito bem

 Quando tudo está muito bem em minha vida, sinto medo, sinto que algo está para acontecer.


Foi pensando nisso que recorri a minha mãe, que me lembrou de um lugar há tanto tempo esquecido por mim. Um lugar que visitei quando era adolescente, numa época em que eu procurava boas causas a seguir, boas atitudes a fazer e por isso era vegetariana e simpatizante do anarquismo. Do último ainda sou.

Mas me lembrei de um lugar que conheci onde uma senhora de não sei exatamente quantos anos, mais senhora do que minha mãe, fazia de sua casa uma creche em que crianças do arredor ficavam o dia ou a metade do dia ali para terem atividades, terem a companhia de pessoas que as queriam bem, pois em suas casas essas crianças eram mal tratadas (destratadas), abandonadas ou não tinham simplesmente o que comer ou com quem ficar. Nesse lugar, essas crianças eram crianças, tinham comida (nem que fosse pouca) tinham alguma brincadeira e algum aprendizado que em casa com certeza nunca teriam.

Uma senhora, que podia ser minha avó, tomava conta de cerca de 100 crianças que eram desprezadas por suas famílias, pela sociedade ou pelo poder público, e pior ainda, eram desprezadas por mim. Sim, pois desde a época em que eu conheci esse lugar e essa senhora, e também tomei conhecimento dessas crianças, há uns oito anos, voltei-me a minha vida, somente a isso.

Hoje quando relembrei desse lugar, dessa senhora e dessas crianças, busquei informações na internet (o oráculo virtual) e vi que há dois anos eles estavam precisando de muita ajuda, que um grupo de pessoas os ajudou, que outros e outros grupos fizeram algumas campanhas, de arrecadação de comida, de presentes em época de festividades. Vi também algumas fotos do lugar, como mudou desde então.

Depois disso, fui colocar minha filha para dormir, e pensei que hoje comprei o tênis escolar dela, que deveria ser rosa porque ela adora rosa, ou um tom parecido; pensei que essas crianças não devem nem ter tênis para ir à escola, talvez uma sandália de dedo; pensei na história que eu contei pra minha filha dormir, “João e Maria” que ela escolheu (coincidência?) e pensei nas histórias que essas crianças nunca ouviram de seus pais, ou nas que nunca conheceriam; fui fazer o leite com chocolate pra minha filha dormir e pensei na quantidade de leite que essas crianças tinham pra beber por dia; olhei a minha geladeira e a minha dispensa e pensei na comida que havia nas casas ou na creche para essas crianças se alimentarem todos os dias; por fim, dei “boa noite” para minha filha e lembrei por instantes de tudo que ela é pra mim, de todo amor que sinto por ela, e pensei no amor que essas crianças devem ter todos os dias de seus pais, em suas casas.

Enquanto leio meu mural no “face”, enquanto “compartilho” minhas fotos e leio campanhas de adoção de animais “carentes”, enquanto minha filha dorme  e eu rezo, enquanto minhas palavras são escritas e lidas, enquanto tudo isso e outras coisas acontecem, alguma criança daquele lugar está sem sapatos, sem comida, sem leite, sem história, sem boa noite.

Por isso minha vida não está bem agora. Algo está errado. E também por isso, novamente vou "compartilhar", na esperança que algo além disso em mim mude.

OBS.: O lugar é a Creche da Tia Maria fica na Rua das Amendoeiras, quadra 24, casa 24, bairro Caminho de Búzios, Cabo Frio, RJ. Tel: 2629-2347

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Reverência

Ao negro que me invade e faz do chão o seu terreiro
Deixando sua música e dança em meu corpo
Falando simples, sendo forte em seu conselho

Ao índio que rompe pelas matas
E chega em minha alma
Fazendo-a seu abrigo, colhendo seu alimento e firmando mais

À criança que me ensina a brincar e relembra o que tenho
Todos os dias em minha boca mas esqueço:
As doces palavras

Ao povo que vem de lugares que nessa vida não conheci
Mas que carrego dentro do meu coração -
Que enlaça nos campos
Que balança no mar
Que encanta na rua

Às luzes que ainda não sabemos seus nomes
Mas que nos motivam a sermos melhores e nos guiam nesse caminho de fé

17/10/11

Três

Já não sou mais duas
Nem partida ao meio
Já fui o que sempre quis
E deixei o resto pela metade
Deixei de ser o que sonhava
E deixei de sonhar
Mas acima disso deixei me levar
Por uma vontade alheia a mim


Sou agora o desejo de ser
A mudança em volúpia
A transmutação do que eu não sabia ser
Descobri em mim eu mesma
Percebi que não era dividida em dois
Mas olhava somente por dentro e por fora
E hoje sei que existe outro caminho


A vida surpreende e decepciona se esperarmos por isso
Então não mais espero
Faço o que sinto e reflito antes de falar
Não por ser descabida, mas por ser mais gentil
As falas que me invadem não são mais de mim
São de tudo o que não enxergava
O que não sabia de onde vinha


E agora tenho o compromisso de não ser mais surda!

30/03/09


domingo, 19 de setembro de 2010

Contraditória

Dentro de mim eu quero que seja
Mas dentro de mim eu sei que não é
A vida que penso em ter e não retomo ao que faço
Dentro de mim eu quero que seja
Mas dentro de mim eu sei que não é
As realizações que construo no caminho e se destroem com tanta facilidade
Dentro de mim eu quero que seja
Mas dentro de mim eu sei que não é
O pai que ama a mãe e a mãe que se perdeu por isso se perder
Dentro de mim eu quero que seja
Mas dentro de mim eu sei que não é
A paciência em terminar uma discussão em não gritar
Dentro de mim eu quero que seja
Mas dentro de mim eu sei que não é
A fidelidade aos sentimentos que me equilibram
Dentro de mim eu quero que seja
Mas dentro de mim eu sei que não é
Os planos de trabalho que faço e não completo
Dentro de mim eu quero que seja
Mas dentro de mim eu sei que não é
Há momentos em que sou de fato isso e outros em que me enquadro na questão, pra não ter que dar trabalho.
Mas existem janelas em meio ao tempo, que abrem possibilidades de ser eu mesma, onde entro em contato com uma sensação de serenidade verdadeira, e que parece que o espaço onde me encontro já não é esse.
Enfim essas janelas existem, pois sinto, e essa é a aparência da verdade.
Se eu forçar a mente em acreditar nisso, eu me transporto pra lá, pra esse lado em que minha vida muda de repente.
E de repente pode mudar mesmo, mesmo aqui.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Trocas

Trocamos de vida, sim trocamos
trocamos de roupa pelo prazer de trocar
de cor de cabelo, quando enjoamos
trocamos a casa, quando ela é pequena
ou sua cor, se não a trocamos
e talvez os móveis de lugar

trocamos de canal da tv, ou de estação do rádio
de lugar na escola, no ôbinus
ou de carro, se temos mais dinheiro
trocamos de sapato, se não combinam
e de bolsa também

trocamos uma ideia, sem compromisso
assim como trocamos com quem falamos
essas mesmas ideias

trocamos palavras sinceras
e elogios ou ofensas
carinhos ou desprezos

trocamos as pernas quando bebemos
ou nosso caminho, mesmo sóbrios
trocamos a conversa, se não compreendidos
ou a companhia se não compreendemos

trocamos de hábito por necessidade
ou de namorado quando trocamos nossas necessidades
trocamos metas, quando o tempo passa e não conseguimos nada

trocamos as fraldas quando somos mães
e aí também trocamos os dias pelas noites
mas aprendemos a nunca trocar o amor que sentimos

trocamos a noção de felicidade que tínhamos
trocamos nossa vida, quando já não sabemos o que trocar
trocamos de certeza, quando estamos em dúvida

trocamos a alegria pela tristeza, e em segundos
o contrário, sem saber como

trocamos de atitude, quando trocamos de ponto de vista
trocamos intimidades, olhares, experiências
E ainda somos capazes de trocar tudo isso por algo que não entendemos,
pelo simples prazer de trocar.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Desarranjo

desfaço o que vejo
vejo de novo
como como você comeria
faço o que não ouço
ouço
repouso
e não esqueço
calo e retardo
corro
correria que a minha perna cansa
ai ai
dança
que vontade que dá

essa miséria de vida
me faz lembrar
de você
sempre
meu espinho alcança a testa
me resta você
calo
e você fala na cabeça
cala minha inconsciência
e minha pele apenas sente
o ar passar
e vê que nada é tão sério
é sério
sim é
mas se eu parar pra pensar
não tem mais graça

a roda continua
se repete
me repele
me empurra
eu que nem sei
eu que nunca quis
me obriga a admitir que existo
só isso