domingo, 18 de maio de 2008

Até o pós (poema pós-moderno)

Até breve ou após.
No pós-momento em que me acho
não me encontro de fato,
devaneio entre os básicos sentimentos
e as formas abstratas
que gritam ao meu lado.

Pós-ato: no pôr-do-sol instante
em que me definho no vinho
tento me equilibrar
nas definições ainda persistentes na mente.

Individual-realismo,
caminho espiritual
ou promíscuo.

Não entendo o que sinto,
mas ando no precipício,
na imagem pro altar,
no pós-término do falido
- na aragem do não colhido
há espaço pro hospício.

E as mulheres-indivíduos,
os homens semi vividos,
vivem não mais oprimidos
- recebem da antena de tv
o raio que mensageia o que não veêm.

E o meu pós retrato (espaço)
ainda inexiste,
mas subentende no outro
o que (não acretido)
me visite só em sonho.

Um

De todas as janelas
que me olham agora entreabertas
uma faz brilhar em mim
a impaciência da curiosidade

De todas as cortinas
que cobrem os vultos andantes
uma dança ao efeito dos ventos
que inutilizam sua tentativa de imobilidade

De todas as fontes
que escorrem por entre as pedras
uma desperta sempre ao alvorecer
fazendo em mim brotar suores de felicidade

De todas as luzes
que refletem sobre as mentes
uma atrai-me ao incesto de mim mesma
provocando impulsos de promiscuidade

De todas as vidas
que em meu corpo habitaram
uma se funde sem perceber
e permanece num tempo que se faz eternidade

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Visão

Vi Deus ali na torneira
da pia do banheiro
Estava sentada no vaso
tentando urinar
imaginando a água
escorrendo da torneira
Foi quando, no reflexo dela,
vi a imagem de Deus surgir pra mim
Estava de branco e de barba
que nem Jesus
Então consegui urinar
e ao mesmo tempo lágrimas
escorreram de meus olhos
Tentei tocar Deus ali, na torneira,
mas acabei embaçando-a
com meu dedo suado
E nisso Deus ficou desfocado
e não pude vê-lo mais
Chorei por alguns milésimos de segundos
então levantei do vaso
saí sem lavar as mãos
sem tocar em Deus
e o deixei lá.

23.02.03

A bolha

O tempo me comprime em mim mesma
as horas não se estendem para me aliviar
o tempo se esvai durante as horas
e eu permaneço no mesmo lugar.

As pessoas passam por minha alma
e tenho sede de senti-las
mas a mão de pensamentos
ainda sustentam a vontade que me habita.

Ouço apenas o silêncio de minha voz agora.


2004

Eu vi o menino

Socorro...
Agoniza em mim um grito de esperança
por mais que pareça de desespero
Aquele menino que passou ali
levado pelo homem branco
e pelo outro que dirige o carro
aquele menino negro
levado com meu grito contido

Socorro...
Nossas falas à mesa parecem se mover
enquanto o que se passa ao meu redor
pára por alguns instantes
O menino levado...
Aquele menino foi eu levada de mim
confusa entre os homens
entre as conversas
em que pareço estar tanto atenta
mas no ato sinto-me passeando por tudo
o copo de cerveja
o casal ao lado
o menino que passa
o meu casal...
vejo todos juntos e isso me assusta

Socorro...
O menino já passou
e agora só resta nossa conversa
ainda sobre a vida que é cíclica
sobre um projeto a se executar
sobre bio coisas e moleco secular
e eu? onde estou?
Estou dentro daquele carro branco
de vidros negros
fui levada sem perceber
e só agora retorno desse conto
e monto aos ausentes
o fato por mim passado:
Um minuto de silêncio por favor ( _ )
Termina o minuto e volta a conversa
mas e o menino?
Onde estou?

Socorro...
Meu pensamento pede passagem
pede um tempo pra se organizar
mas se de fato o tempo for circular
aquele menino há de voltar
e eu afinal
saberei onde estou.

2004

Casa de mim

A ausência de palavras permeia
por esta casa
Ressoando em meus sentidos
Fazendo sentir em mim a necessidade
de não calar
Por mais que eu ande rápido
Meus pensamentos não me deixam
Minhas vontades continuam a surgir
A cada nova imagem
Que aparece em meu cérebro.
As sombras do passado
Não me deixam viver o presente
E não resolvo meus deveres,
Muito menos meus impulsos,
Que me levam inconscientemente
A novas escolhas.
Enquanto ainda me convulsiono
pelas passadas (antigas idéias)
mal resolvo as que me surgem à frente
E não vejo a construção
de meu caminho
pois as pegadas só formam círculos.
O tempo se estreita
E não consigo me terminar


09.03.03

quarta-feira, 14 de maio de 2008

No corpo

Contorna o contorno
das coisas e olha
naquilo que te apetece
goza
Volta e não olha
toca, mas não demora
tenta chorar, mas não sai
Queima tudo por dentro
E se agride, ignora.
De si mesma sai correndo
Se faz de criança
Aí chora
Não engana a alma
Só empata tua vida
Só esconde a ferida
Que não melhora
É agora
Ta na hora
Simbora!
Sacode a poeira
E levanta a carcaça
Que ainda tem vida
aí dentro
Não se faz de mole
Não me engana
Sei que quer
E que pode
Fala pra si mesma
Fala a verdade
Se olha!
Depois me encara
Aí vamos embora.

terça-feira, 13 de maio de 2008

O porquê

A idéia de criar um blog nunca me passou na cabeça porque a principio eu achava algo um pouco bobo, adolescente e tal... Mas depois de um tempo vi tantos blogs de diferentes assuntos, de pessoas de diversas idades que, com uma motivação maior ainda que foi o fato de que o registro e/ou publicação de minhas poesias seriam tão custosas, tanto em dinheiro quanto em tempo para mim, de fato concluí que essa história de blog seria legal. Então tá aí: algumas poesias minhas de um tempo atrás e uma motivação para as próximas. Afinal, todo poeta quer ser ouvido, como me disse um amigo meu.