As feridas estão abertas
Se eu pudesse seria um pássaro pra voar daqui
Ou ter músculos pra te bater
Mas nem um nem outro resolvem
Minhas feridas não secam, o alho continua a temperar demais
Soa como nunca antes, dói que nem topada no dedão
A faca tá amolada sobre a mesa, esperando alguém cortar o
pão
Dividir essa coisa mal cortada, essa comida estragada
Se eu pudesse seria uma leidi, seria Amélia e Eva
Mas não sei, não passo do quadrado de minha casa
Suporto o que se convém e o resto vira drama
Nossa vida parece novela que não termina, desenho inacabado
Queria conseguir de verdade, evoluir nessa noite e virar
lobisomem
Uivar pra lua cheia e correr por aí
Ser menino de treze anos, que nem a lenda
Vivo sonhando acordada, viro demais na cama e caio no chão
O chão me acorda e me diz qual é o limite, mas dói e deixa o
rosto roxo
O amor é estranho mesmo, ou eu que sou
Porque nem sei pedir desculpas, nem deixo o tempo passar
Sinto falta da tua pele e de tua magreza
Queria ver filme junto, ir á praia
Mas o tempo ficou nublado e não tem vento que dê jeito
O meu peito nem sente mas a cabeça roda
Enquanto fico aqui esperando na lógica da reencarnação
Acho que o problema é esse, é voltar
Se eu voltasse poderia me segurar e dar um tapa pra me
acordar
Saber que ia dar zebra, que o bicho pegou
Só que a vida tem relógio e conta depressa o tempo da gente
Nem percebi que você foi embora, fiquei aqui divagando nas
minhas objeções
Incerta de ter razão ou sentimento, contando os papéis de
notas a pagar
Esqueci da criança que pari, de criar devagar e com
paciência
Aprender não é fácil, mas a gente vai seguindo até o portão
fechar
Se der o sinal e eu ficar de fora, vou chorar que nem
criança
Vou sentar no meio fio e por a cabeça entre as pernas pra ver
se o mundo gira
E não vai eu sei
Vou ter que levantar e lavar a cara, mas eu fico aqui te
esperando até você sair
Até me dar outra chance
e vou rezar pra Deus não me entender e me dar outro tombo
porque senão não aprendo
04/12/12