segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Mergulho

O ar me falta
inspiro fundo pra tentar me acalmar
tento focar na respiração

Deito de peito aberto no solo
pra afagar o coração
mas entre minhas pernas
ele continua a pulsar e aquecer a mente

Sento e busco assentar as sensações
na esperança de dissipar a ansiedade
quando silencio
ouço então seu sono e respirar profundo

Volta a palpitação
reviro na cama
e busco algum pensamento lógico
pra explicar aquilo

Mas cada movimento
só me excita mais
e parece que vou implodir
numa ânsia de sentir

Desisto
e enfim sento à sua beira
não desejo mais nada além disso
preciso deixar esse vento
que cria ondas sobre minha pele
desacelerar e levar embora
o que não controlo

E então mergulho
me deixo ser acolhida
e lavar meus desejos
na imensidão desse lago
onde repouso no escuro

Enfim a água me inunda
e meu corpo treme de tanto sentir
há um fluir de você em mim
há pausas pra tomar fôlego
e no espelho de suas águas
posso enfim me ver









 

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Amor de mãe

 

Minha filha,

eu te amo de forma infinita

e queria que você soubesse 

que não é ruim a gente sentir,

a gente temer ou chorar.

Ruim é a gente deixar de dizer

que ama quando ama,

porque a gente nunca sabe

se vai ter nova chance de dizer.

Então não deixe irem embora

os momentos em que você sentir

amor por alguém.

Mesmo que te achem muito emotiva,

diga e deixe que toda boa

emoção e sentimento

tenha passagem em você e alcance

o outro enquanto está ao seu lado.

O futuro não existe

e o passado já se foi... só temos o presente.

Então ame e viva o melhor hoje.





domingo, 25 de julho de 2021

Eu te amo hoje

 

Eu queria dizer que te amo

e dizer que isso não te compromete em dizer o mesmo

porque o te amo é de mim para você

como um presente que lhe dou e pode fazer o que quiser

eu te amo na liberdade que aprendo em nossos encontros

eu te amo no carinho que há tanto tempo eu não tinha

eu te amo sem precisar dizer

eu te amo porque há cumplicidade no nosso café

porque amo dormir, acordar e ouvir seus tiques

e queria te dizer hoje porque é o que eu sinto agora

porque tudo de bom que vivemos nesse momento

deve ser dito e sentido no seu melhor

porque se amanhã eu não te amar mais

vou ter sido feliz em saber que te amei hoje



terça-feira, 9 de março de 2021

Compreender

 Meu bem, 

Você é tão maior que tudo isso que está lhe afligindo,

porque tudo isso não é o que você realmente é

As dores, os amores, até mesmo a gente,

são só experiências pelas quais passamos

e que não definem quem somos.

Você é essa pessoa livre, feliz e plena

por trás de todos esses momentos que parecem não passar.

Por trás da solidão que você sente,

há alguém que sempre esteve aí

alguém que não muda, em essência.

E sim, você tem uma essência que é bela e não perfeita

como toda a natureza ao seu redor.

Sei que sou suspeita em falar,

Porque acredito em tudo, 

Em todas as coisas possivelmente existentes,

e por isso acredito em você,

como acredito em mim

e em todas as pessoas que de verdade sentem.

E nós sentimos tanto... 

Sentimos, e por isso a vida nos parece mais dura.

Mas é só um aspecto dela, 

de toda essa coisa que a gente tenta entender pra viver melhor.

O que existe por trás disso que vemos é tão maior que a gente,

E fazemos parte disso, pode acreditar.

Eu acredito em você, meu bem,

Na sua força, na sua sutileza e em tudo o que você é

porque eu te vejo, te ouço, te sinto e acima de tudo, te compreendo.


Daniela Ivo

09/03/2021




domingo, 7 de março de 2021

Prazeres à mesa


Sempre tive grande prazer nas refeições. Pra mim elas eram quase rituais e um momento único, por mais repetitivos que fossem os almoços ou lanches, eram quase estados meditativos.

Mas fazia anos que eu não tinha mais esse prazer, e não sabia bem o que tinha acontecido com aquela minha vontade em experimentar temperos, em inventar minhas “ante receitas”, em descobrir o que deu ou não certo, o que agradou mais ou menos o paladar.

As refeições se tornaram silenciosas, mas um silêncio não apreciativo e sim defensivo. Sim, havia um receio em falar. Em falar e ver a expressão meio torta do outro, em falar e ouvir a reclamação, em falar e não ter retorno, ou ainda retornar uma fala tão desestimulante, que preferi apreciar o vazio das refeições.

Isso hoje me faz lembrar o vazio das refeições na casa dos meus pais antes deles se separarem também, quando meu irmão e meu pai brigavam, quando minha mãe já tinha silenciado por motivos parecidos com os meus. E eu só percebi isso depois de tantos silêncios assistidos em minha casa.

Hoje aqui as refeições são inconstantes: temos apreciações de temperos e dos nossos gostos diferentes, meus e de minha filha. Trocamos impressões sobre essas diferenças e mesmo havendo uma reclamação dela, típica de libriana que quer tudo em equilíbrio, mesmo assim a gente no final acaba rindo de alguma ideia que surge, acaba contando outras histórias que se deixam vir, ou até ouvimos as discussões dos vizinhos e rimos.

Temos encontros de verdade à mesa, mesmo que só nós duas. Ou quando minha mãe vem nos visitar e as falas se multiplicam mais ainda, deixando a comida esfriar no prato de tanto a avó e a neta falarem.

As inconstâncias das refeições viraram rotina. E a rotina do preparo das refeições não são mais silenciosas: são livres e abertas à cumplicidade, às novas ideias e experimentações, aos erros e às preguiças do domingo.

Hoje as refeições me refletem, porque não silencio mais diante do que me dá prazer, e não silenciarei mais diante de qualquer ausência, principalmente de mim mesma.

 

Daniela Ivo

01/03/2021

(texto produzido para a oficina online do Projeto Mulheres de Sal)

Imagem da arte de Rui de Paula - Fogão com bule azul

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Ser leve

Meu bem, quanto peso a gente carrega sem precisar.

Se eu soubesse antes que a vida podia ser mais leve,

não teria deixado tanto tempo passar sem dizer o que era preciso.

Mas o tempo é um grande mensageiro atrasado aos nossos olhos,

a gente quer entender sem saber esperar

e quando ele passa e nos ensina a lição

parecemos esquecer que dói mais não ter entendido antes.

A dor do conhecimento é algo que aos poucos 

acomoda todos os empecilhos dentro de nós,

faz surgir o sentido de tudo que foi visto,

revela o que antes era só peso

e, por fim, traz leveza aos dias.

A dor maior que fica é a solidão do conhecimento

é ver sozinho, quando a gente só queria dividir isso tudo com o outro.

Repouso no balanço da cadeira que me acolhe

e deixo partir o vazio em mim pelo jardim afora.


Dona Marcinha

18 de fevereiro de 2021

Cartas de pandemia



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Desejos de folia

É Carnaval, meu bem, e agora?

Todas as vontades de fazer o que der na cabeça, todas as loucuras e bichos que ficam aprisionados durante tanto tempo, não vão mais pular por aí.

Não vamos pôr a purpurina no rosto e arrumar a fantasia de última hora. Aquele bloco de marchinha que arrasta a gente como se fôssemos parte do mundo, e o mundo fosse parte da gente, não vai sair.

Fico com medo de sair de casa nesse carnaval fake, porque muitos estarão sem máscaras, fazendo ainda suas loucuras e talvez até mais, porque existe uma impunidade mortal no ar.

Eu queria enfeitar minha varanda e voltar a beber só essa semana, pra poder deixar minhas mágoas irem embora também.

Eu ia escrever sobre elas hoje pra você, mas lembrei do Carnaval, de não ser mais jovem, de não ter mais quem beijar na boca nesse carnaval. 

Ah, e como é bom ter amor de carnaval! Ver os casais com fantasias que combinam, grudados, pulando e caindo por aí, até voltarem apoiados uns nos outros pra casa.

Tanta gente, tanta alegria... Alguns ainda vão festejar na surdina, se aglomerar e não vão resistir em fazer churrascos, e festas, e bailes, e não saberemos depois se além de cinzas e confete, o que mais vai sobrar pelos hospitais.

Tanta gente, e eu aqui na minha varanda escura. 

Espere que fique bem por aí, que resista em não pular, e que  beba um pouco pra se alegrar, veja bons filmes, encontre quem estiver seguro como você, e seja feliz nesse carnaval.


Sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021.

Cartas de Pandemia


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Somente um oi

Oi, meu bem.

Resolvi te escrever antes que tudo acabe.

Calma, que não há previsão de novo fim do mundo, mas é que a cada mês há algo novo que parece dizer que todos estamos no fim dos tempos.

As pessoas estão meio loucas, ou meio anestesiadas de tanta loucura, que já nem sei. Nem mesmo eu sei se não peguei esse vírus. 

Ele nos deixa pensando na vida, na morte, depois deixa a gente  voltar ao  quase normal e decidir o que fazer com as duas sensações de fim.

E no fim tem quem não pense em nada, que não mude nada, e siga sua vida de sempre, de não enxergar muito  além do que o dinheiro paga, das festas, dos fins de semana em algum restaurante bom.

E tem quem não saiba  mais por onde começar a reviver, depois de tanto que viu e sentiu. Tipo eu, assim.

Não tenho mais vontade de ficar famosa, mas  sigo contando meus pensamentos, com uma ânsia doida de sempre sentir mais, porque entender mesmo eu já sei que não tem mais o que entender, só o que sentir.

E sabe meu bem, parece que só eu sinto. E me sinto um alienígena muitas vezes. Aquela sensação de não saber bem o que encaixa com o que mais. Como na adolescência em que a gente tá se descobrindo. 

Mas eu já passei dos 40, e fica chato dizer isso, mas parece que tenho uns 15 de novo, nesse sentido. Minha sorte é que a gente não desaprende nada, e somo a essa sensação pueril o que vivi até aqui.

Acho que o resto é reentender, saber lidar e esperar a vacina chegar direito pra sentar na beira da lagoa com liberdade real, com papos reais e pessoas que de verdade sejam. 

É, meu bem, nada acaba, e em breve eu te escrevo de novo. E se eu passar pro outro lado dou um jeito de alguém psicografar, pode deixar.

Fique bem por aí. E a cada dia que surgir um desânimo, tome um café ou um chá, o que lhe for melhor ao seu coração, mas me envia mensagem sempre.



Cartas de Pandemia


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Repetição

Quase um ano já se foi
Mas em mim as dores ainda não
Minhas mãos parecem ter ainda a tinta
Que marcou por tanto tempo meu corpo
Que apertou por tanto tempo meu peito
E ainda meu peito aperta
A cada repetição de falta
A cada falta de companhia
A cada ausência de afeto
A cada não 
Parece que sempre estive presa a incertezas
Sem saber sair ou ficar
Sem entender o que sentir
Sem conseguir falar
Parece que em mim algo se quebrou há muito tempo
E sem tempo pra entender
Anseio por cobrir os vazios
Por dissipar as marcas
Por esquecer as mágoas 
Mas nada se vai
O tempo parece me dizer algo que não entendo 
Tento fazer as pazes comigo mesma
Entender meus desejos 
E recomeço 
De novo