segunda-feira, 22 de novembro de 2021
Mergulho
sexta-feira, 13 de agosto de 2021
Amor de mãe
Minha filha,
eu te amo de forma infinita
e queria que você soubesse
que não é ruim a gente sentir,
a gente temer ou chorar.
Ruim é a gente deixar de dizer
que ama quando ama,
porque a gente nunca sabe
se vai ter nova chance de dizer.
Então não deixe irem embora
os momentos em que você sentir
amor por alguém.
Mesmo que te achem muito emotiva,
diga e deixe que toda boa
emoção e sentimento
tenha passagem em você e alcance
o outro enquanto está ao seu lado.
O futuro não existe
e o passado já se foi... só temos o presente.
Então ame e viva o melhor hoje.
domingo, 25 de julho de 2021
Eu te amo hoje
Eu queria dizer que te amo
e dizer que isso não te compromete em dizer o mesmo
porque o te amo é de mim para você
como um presente que lhe dou e pode fazer o que quiser
eu te amo na liberdade que aprendo em nossos encontros
eu te amo no carinho que há tanto tempo eu não tinha
eu te amo sem precisar dizer
eu te amo porque há cumplicidade no nosso café
porque amo dormir, acordar e ouvir seus tiques
e queria te dizer hoje porque é o que eu sinto agora
porque tudo de bom que vivemos nesse momento
deve ser dito e sentido no seu melhor
porque se amanhã eu não te amar mais
vou ter sido feliz em saber que te amei hoje
terça-feira, 9 de março de 2021
Compreender
Meu bem,
Você é tão maior que tudo isso que está lhe afligindo,
porque tudo isso não é o que você realmente é
As dores, os amores, até mesmo a gente,
são só experiências pelas quais passamos
e que não definem quem somos.
Você é essa pessoa livre, feliz e plena
por trás de todos esses momentos que parecem não passar.
Por trás da solidão que você sente,
há alguém que sempre esteve aí
alguém que não muda, em essência.
E sim, você tem uma essência que é bela e não perfeita
como toda a natureza ao seu redor.
Sei que sou suspeita em falar,
Porque acredito em tudo,
Em todas as coisas possivelmente existentes,
e por isso acredito em você,
como acredito em mim
e em todas as pessoas que de verdade sentem.
E nós sentimos tanto...
Sentimos, e por isso a vida nos parece mais dura.
Mas é só um aspecto dela,
de toda essa coisa que a gente tenta entender pra viver melhor.
O que existe por trás disso que vemos é tão maior que a gente,
E fazemos parte disso, pode acreditar.
Eu acredito em você, meu bem,
Na sua força, na sua sutileza e em tudo o que você é
porque eu te vejo, te ouço, te sinto e acima de tudo, te compreendo.
Daniela Ivo
09/03/2021
domingo, 7 de março de 2021
Prazeres à mesa
Sempre tive grande prazer nas
refeições. Pra mim elas eram quase rituais e um momento único, por mais
repetitivos que fossem os almoços ou lanches, eram quase estados meditativos.
Mas fazia anos que eu não tinha
mais esse prazer, e não sabia bem o que tinha acontecido com aquela minha
vontade em experimentar temperos, em inventar minhas “ante receitas”, em
descobrir o que deu ou não certo, o que agradou mais ou menos o paladar.
As refeições se tornaram
silenciosas, mas um silêncio não apreciativo e sim defensivo. Sim, havia um
receio em falar. Em falar e ver a expressão meio torta do outro, em falar e
ouvir a reclamação, em falar e não ter retorno, ou ainda retornar uma fala tão
desestimulante, que preferi apreciar o vazio das refeições.
Isso hoje me faz lembrar o vazio
das refeições na casa dos meus pais antes deles se separarem também, quando meu
irmão e meu pai brigavam, quando minha mãe já tinha silenciado por motivos
parecidos com os meus. E eu só percebi isso depois de tantos silêncios
assistidos em minha casa.
Hoje aqui as refeições são
inconstantes: temos apreciações de temperos e dos nossos gostos diferentes,
meus e de minha filha. Trocamos impressões sobre essas diferenças e mesmo
havendo uma reclamação dela, típica de libriana que quer tudo em equilíbrio,
mesmo assim a gente no final acaba rindo de alguma ideia que surge, acaba
contando outras histórias que se deixam vir, ou até ouvimos as discussões dos
vizinhos e rimos.
Temos encontros de verdade à
mesa, mesmo que só nós duas. Ou quando minha mãe vem nos visitar e as falas se
multiplicam mais ainda, deixando a comida esfriar no prato de tanto a avó e a
neta falarem.
As inconstâncias das refeições
viraram rotina. E a rotina do preparo das refeições não são mais silenciosas:
são livres e abertas à cumplicidade, às novas ideias e experimentações, aos
erros e às preguiças do domingo.
Hoje as refeições me refletem,
porque não silencio mais diante do que me dá prazer, e não silenciarei mais
diante de qualquer ausência, principalmente de mim mesma.
Daniela Ivo
01/03/2021
(texto produzido para a oficina online do Projeto Mulheres de Sal)
Imagem da arte de Rui de Paula - Fogão com bule azul
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021
Ser leve
Meu bem, quanto peso a gente carrega sem precisar.
Se eu soubesse antes que a vida podia ser mais leve,
não teria deixado tanto tempo passar sem dizer o que era preciso.
Mas o tempo é um grande mensageiro atrasado aos nossos olhos,
a gente quer entender sem saber esperar
e quando ele passa e nos ensina a lição
parecemos esquecer que dói mais não ter entendido antes.
A dor do conhecimento é algo que aos poucos
acomoda todos os empecilhos dentro de nós,
faz surgir o sentido de tudo que foi visto,
revela o que antes era só peso
e, por fim, traz leveza aos dias.
A dor maior que fica é a solidão do conhecimento
é ver sozinho, quando a gente só queria dividir isso tudo com o outro.
Repouso no balanço da cadeira que me acolhe
e deixo partir o vazio em mim pelo jardim afora.
Dona Marcinha
18 de fevereiro de 2021
Cartas de pandemia
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
Desejos de folia
É Carnaval, meu bem, e agora?
Todas as vontades de fazer o que der na cabeça, todas as loucuras e bichos que ficam aprisionados durante tanto tempo, não vão mais pular por aí.
Não vamos pôr a purpurina no rosto e arrumar a fantasia de última hora. Aquele bloco de marchinha que arrasta a gente como se fôssemos parte do mundo, e o mundo fosse parte da gente, não vai sair.
Fico com medo de sair de casa nesse carnaval fake, porque muitos estarão sem máscaras, fazendo ainda suas loucuras e talvez até mais, porque existe uma impunidade mortal no ar.
Eu queria enfeitar minha varanda e voltar a beber só essa semana, pra poder deixar minhas mágoas irem embora também.
Eu ia escrever sobre elas hoje pra você, mas lembrei do Carnaval, de não ser mais jovem, de não ter mais quem beijar na boca nesse carnaval.
Ah, e como é bom ter amor de carnaval! Ver os casais com fantasias que combinam, grudados, pulando e caindo por aí, até voltarem apoiados uns nos outros pra casa.
Tanta gente, tanta alegria... Alguns ainda vão festejar na surdina, se aglomerar e não vão resistir em fazer churrascos, e festas, e bailes, e não saberemos depois se além de cinzas e confete, o que mais vai sobrar pelos hospitais.
Tanta gente, e eu aqui na minha varanda escura.
Espere que fique bem por aí, que resista em não pular, e que beba um pouco pra se alegrar, veja bons filmes, encontre quem estiver seguro como você, e seja feliz nesse carnaval.
Sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021.
Cartas de Pandemia
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021
Somente um oi
Oi, meu bem.
Resolvi te escrever antes que tudo acabe.
Calma, que não há previsão de novo fim do mundo, mas é que a cada mês há algo novo que parece dizer que todos estamos no fim dos tempos.
As pessoas estão meio loucas, ou meio anestesiadas de tanta loucura, que já nem sei. Nem mesmo eu sei se não peguei esse vírus.
Ele nos deixa pensando na vida, na morte, depois deixa a gente voltar ao quase normal e decidir o que fazer com as duas sensações de fim.
E no fim tem quem não pense em nada, que não mude nada, e siga sua vida de sempre, de não enxergar muito além do que o dinheiro paga, das festas, dos fins de semana em algum restaurante bom.
E tem quem não saiba mais por onde começar a reviver, depois de tanto que viu e sentiu. Tipo eu, assim.
Não tenho mais vontade de ficar famosa, mas sigo contando meus pensamentos, com uma ânsia doida de sempre sentir mais, porque entender mesmo eu já sei que não tem mais o que entender, só o que sentir.
E sabe meu bem, parece que só eu sinto. E me sinto um alienígena muitas vezes. Aquela sensação de não saber bem o que encaixa com o que mais. Como na adolescência em que a gente tá se descobrindo.
Mas eu já passei dos 40, e fica chato dizer isso, mas parece que tenho uns 15 de novo, nesse sentido. Minha sorte é que a gente não desaprende nada, e somo a essa sensação pueril o que vivi até aqui.
Acho que o resto é reentender, saber lidar e esperar a vacina chegar direito pra sentar na beira da lagoa com liberdade real, com papos reais e pessoas que de verdade sejam.
É, meu bem, nada acaba, e em breve eu te escrevo de novo. E se eu passar pro outro lado dou um jeito de alguém psicografar, pode deixar.
Fique bem por aí. E a cada dia que surgir um desânimo, tome um café ou um chá, o que lhe for melhor ao seu coração, mas me envia mensagem sempre.
Cartas de Pandemia