quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Ser leve

Meu bem, quanto peso a gente carrega sem precisar.

Se eu soubesse antes que a vida podia ser mais leve,

não teria deixado tanto tempo passar sem dizer o que era preciso.

Mas o tempo é um grande mensageiro atrasado aos nossos olhos,

a gente quer entender sem saber esperar

e quando ele passa e nos ensina a lição

parecemos esquecer que dói mais não ter entendido antes.

A dor do conhecimento é algo que aos poucos 

acomoda todos os empecilhos dentro de nós,

faz surgir o sentido de tudo que foi visto,

revela o que antes era só peso

e, por fim, traz leveza aos dias.

A dor maior que fica é a solidão do conhecimento

é ver sozinho, quando a gente só queria dividir isso tudo com o outro.

Repouso no balanço da cadeira que me acolhe

e deixo partir o vazio em mim pelo jardim afora.


Dona Marcinha

18 de fevereiro de 2021

Cartas de pandemia



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Desejos de folia

É Carnaval, meu bem, e agora?

Todas as vontades de fazer o que der na cabeça, todas as loucuras e bichos que ficam aprisionados durante tanto tempo, não vão mais pular por aí.

Não vamos pôr a purpurina no rosto e arrumar a fantasia de última hora. Aquele bloco de marchinha que arrasta a gente como se fôssemos parte do mundo, e o mundo fosse parte da gente, não vai sair.

Fico com medo de sair de casa nesse carnaval fake, porque muitos estarão sem máscaras, fazendo ainda suas loucuras e talvez até mais, porque existe uma impunidade mortal no ar.

Eu queria enfeitar minha varanda e voltar a beber só essa semana, pra poder deixar minhas mágoas irem embora também.

Eu ia escrever sobre elas hoje pra você, mas lembrei do Carnaval, de não ser mais jovem, de não ter mais quem beijar na boca nesse carnaval. 

Ah, e como é bom ter amor de carnaval! Ver os casais com fantasias que combinam, grudados, pulando e caindo por aí, até voltarem apoiados uns nos outros pra casa.

Tanta gente, tanta alegria... Alguns ainda vão festejar na surdina, se aglomerar e não vão resistir em fazer churrascos, e festas, e bailes, e não saberemos depois se além de cinzas e confete, o que mais vai sobrar pelos hospitais.

Tanta gente, e eu aqui na minha varanda escura. 

Espere que fique bem por aí, que resista em não pular, e que  beba um pouco pra se alegrar, veja bons filmes, encontre quem estiver seguro como você, e seja feliz nesse carnaval.


Sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021.

Cartas de Pandemia


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Somente um oi

Oi, meu bem.

Resolvi te escrever antes que tudo acabe.

Calma, que não há previsão de novo fim do mundo, mas é que a cada mês há algo novo que parece dizer que todos estamos no fim dos tempos.

As pessoas estão meio loucas, ou meio anestesiadas de tanta loucura, que já nem sei. Nem mesmo eu sei se não peguei esse vírus. 

Ele nos deixa pensando na vida, na morte, depois deixa a gente  voltar ao  quase normal e decidir o que fazer com as duas sensações de fim.

E no fim tem quem não pense em nada, que não mude nada, e siga sua vida de sempre, de não enxergar muito  além do que o dinheiro paga, das festas, dos fins de semana em algum restaurante bom.

E tem quem não saiba  mais por onde começar a reviver, depois de tanto que viu e sentiu. Tipo eu, assim.

Não tenho mais vontade de ficar famosa, mas  sigo contando meus pensamentos, com uma ânsia doida de sempre sentir mais, porque entender mesmo eu já sei que não tem mais o que entender, só o que sentir.

E sabe meu bem, parece que só eu sinto. E me sinto um alienígena muitas vezes. Aquela sensação de não saber bem o que encaixa com o que mais. Como na adolescência em que a gente tá se descobrindo. 

Mas eu já passei dos 40, e fica chato dizer isso, mas parece que tenho uns 15 de novo, nesse sentido. Minha sorte é que a gente não desaprende nada, e somo a essa sensação pueril o que vivi até aqui.

Acho que o resto é reentender, saber lidar e esperar a vacina chegar direito pra sentar na beira da lagoa com liberdade real, com papos reais e pessoas que de verdade sejam. 

É, meu bem, nada acaba, e em breve eu te escrevo de novo. E se eu passar pro outro lado dou um jeito de alguém psicografar, pode deixar.

Fique bem por aí. E a cada dia que surgir um desânimo, tome um café ou um chá, o que lhe for melhor ao seu coração, mas me envia mensagem sempre.



Cartas de Pandemia


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Repetição

Quase um ano já se foi
Mas em mim as dores ainda não
Minhas mãos parecem ter ainda a tinta
Que marcou por tanto tempo meu corpo
Que apertou por tanto tempo meu peito
E ainda meu peito aperta
A cada repetição de falta
A cada falta de companhia
A cada ausência de afeto
A cada não 
Parece que sempre estive presa a incertezas
Sem saber sair ou ficar
Sem entender o que sentir
Sem conseguir falar
Parece que em mim algo se quebrou há muito tempo
E sem tempo pra entender
Anseio por cobrir os vazios
Por dissipar as marcas
Por esquecer as mágoas 
Mas nada se vai
O tempo parece me dizer algo que não entendo 
Tento fazer as pazes comigo mesma
Entender meus desejos 
E recomeço 
De novo