Oi, meu bem.
Resolvi te escrever antes que tudo acabe.
Calma, que não há previsão de novo fim do mundo, mas é que a cada mês há algo novo que parece dizer que todos estamos no fim dos tempos.
As pessoas estão meio loucas, ou meio anestesiadas de tanta loucura, que já nem sei. Nem mesmo eu sei se não peguei esse vírus.
Ele nos deixa pensando na vida, na morte, depois deixa a gente voltar ao quase normal e decidir o que fazer com as duas sensações de fim.
E no fim tem quem não pense em nada, que não mude nada, e siga sua vida de sempre, de não enxergar muito além do que o dinheiro paga, das festas, dos fins de semana em algum restaurante bom.
E tem quem não saiba mais por onde começar a reviver, depois de tanto que viu e sentiu. Tipo eu, assim.
Não tenho mais vontade de ficar famosa, mas sigo contando meus pensamentos, com uma ânsia doida de sempre sentir mais, porque entender mesmo eu já sei que não tem mais o que entender, só o que sentir.
E sabe meu bem, parece que só eu sinto. E me sinto um alienígena muitas vezes. Aquela sensação de não saber bem o que encaixa com o que mais. Como na adolescência em que a gente tá se descobrindo.
Mas eu já passei dos 40, e fica chato dizer isso, mas parece que tenho uns 15 de novo, nesse sentido. Minha sorte é que a gente não desaprende nada, e somo a essa sensação pueril o que vivi até aqui.
Acho que o resto é reentender, saber lidar e esperar a vacina chegar direito pra sentar na beira da lagoa com liberdade real, com papos reais e pessoas que de verdade sejam.
É, meu bem, nada acaba, e em breve eu te escrevo de novo. E se eu passar pro outro lado dou um jeito de alguém psicografar, pode deixar.
Fique bem por aí. E a cada dia que surgir um desânimo, tome um café ou um chá, o que lhe for melhor ao seu coração, mas me envia mensagem sempre.
Cartas de Pandemia