terça-feira, 9 de março de 2021

Compreender

 Meu bem, 

Você é tão maior que tudo isso que está lhe afligindo,

porque tudo isso não é o que você realmente é

As dores, os amores, até mesmo a gente,

são só experiências pelas quais passamos

e que não definem quem somos.

Você é essa pessoa livre, feliz e plena

por trás de todos esses momentos que parecem não passar.

Por trás da solidão que você sente,

há alguém que sempre esteve aí

alguém que não muda, em essência.

E sim, você tem uma essência que é bela e não perfeita

como toda a natureza ao seu redor.

Sei que sou suspeita em falar,

Porque acredito em tudo, 

Em todas as coisas possivelmente existentes,

e por isso acredito em você,

como acredito em mim

e em todas as pessoas que de verdade sentem.

E nós sentimos tanto... 

Sentimos, e por isso a vida nos parece mais dura.

Mas é só um aspecto dela, 

de toda essa coisa que a gente tenta entender pra viver melhor.

O que existe por trás disso que vemos é tão maior que a gente,

E fazemos parte disso, pode acreditar.

Eu acredito em você, meu bem,

Na sua força, na sua sutileza e em tudo o que você é

porque eu te vejo, te ouço, te sinto e acima de tudo, te compreendo.


Daniela Ivo

09/03/2021




domingo, 7 de março de 2021

Prazeres à mesa


Sempre tive grande prazer nas refeições. Pra mim elas eram quase rituais e um momento único, por mais repetitivos que fossem os almoços ou lanches, eram quase estados meditativos.

Mas fazia anos que eu não tinha mais esse prazer, e não sabia bem o que tinha acontecido com aquela minha vontade em experimentar temperos, em inventar minhas “ante receitas”, em descobrir o que deu ou não certo, o que agradou mais ou menos o paladar.

As refeições se tornaram silenciosas, mas um silêncio não apreciativo e sim defensivo. Sim, havia um receio em falar. Em falar e ver a expressão meio torta do outro, em falar e ouvir a reclamação, em falar e não ter retorno, ou ainda retornar uma fala tão desestimulante, que preferi apreciar o vazio das refeições.

Isso hoje me faz lembrar o vazio das refeições na casa dos meus pais antes deles se separarem também, quando meu irmão e meu pai brigavam, quando minha mãe já tinha silenciado por motivos parecidos com os meus. E eu só percebi isso depois de tantos silêncios assistidos em minha casa.

Hoje aqui as refeições são inconstantes: temos apreciações de temperos e dos nossos gostos diferentes, meus e de minha filha. Trocamos impressões sobre essas diferenças e mesmo havendo uma reclamação dela, típica de libriana que quer tudo em equilíbrio, mesmo assim a gente no final acaba rindo de alguma ideia que surge, acaba contando outras histórias que se deixam vir, ou até ouvimos as discussões dos vizinhos e rimos.

Temos encontros de verdade à mesa, mesmo que só nós duas. Ou quando minha mãe vem nos visitar e as falas se multiplicam mais ainda, deixando a comida esfriar no prato de tanto a avó e a neta falarem.

As inconstâncias das refeições viraram rotina. E a rotina do preparo das refeições não são mais silenciosas: são livres e abertas à cumplicidade, às novas ideias e experimentações, aos erros e às preguiças do domingo.

Hoje as refeições me refletem, porque não silencio mais diante do que me dá prazer, e não silenciarei mais diante de qualquer ausência, principalmente de mim mesma.

 

Daniela Ivo

01/03/2021

(texto produzido para a oficina online do Projeto Mulheres de Sal)

Imagem da arte de Rui de Paula - Fogão com bule azul